Firmino, o espantalho
Ano após ano chegavam bandos de pássaros de muito longe, mas com nenhum conseguiu fazer amizade. Mal o viam lá de cima mudavam de rota. Firmino ainda se tentou embelezar. Encheu de lindas papoilas vermelhas o grande chapéu preto, sujo e esburacado. Mas nem assim conseguiu melhores resultados.
Que podia ele fazer numa situação daquelas? Fugir? Deixar de ser espantalho? Explicar aos pássaros que não queria nem podia fazer-lhes mal? Foram ideias que teve, mas nenhuma podia tornar-se realidade, porque cada vez se sentia mais enterrado no chão mole da seara, incapaz de se mexer, de fazer um gesto sequer.
Ia já adiantada a primavera, quando viu desenhar-se no grande céu azul um bando de pássaros coloridos. Foi então que tudo se tornou cinzento e frio e abril, de súbito, se transformou num dezembro de tempestade.
Era a primeira vez que via uma coisa assim. Empurrados pela forte ventania, os pássaros afastaram-se da rota e foram cada um para seu lado, muito aflitos. Alguns caíram exaustos no meio da seara.
Só lhes restava um caminho e foi esse precisamente que escolheram: num esforço final juntaram-se todos e poisaram no chapéu e nos braços de Firmino que, feliz, os protegeu para evitar que fossem arrastados pela tempestade. Enfiou uns debaixo do casaco, outros debaixo do chapéu, outros ainda dentro das mangas largas e cheias de palha macia. Quando o temporal amainou, os pássaros agradeceram-lhe e prepararam-se para seguir de novo a sua rota. A rota tranquila da primavera.
“Levem-me convosco. Porque eu gosto muito de pássaros e estou farto de ser
espantalho” – pediu Firmino, cheio de timidez.
Ainda não tinha acabado de falar e já os pássaros o elevavam no ar, a
grande altura. Tão alto que nunca mais ninguém o viu.
E agora, sempre que chega o mês de abril e as árvores se cobrem de folhas muito verdes e os campos de erva fresca e macia, Firmino voa alegre sobre as searas, suspenso nos bicos dos seus maiores amigos.
E agora, sempre que chega o mês de abril e as árvores se cobrem de folhas muito verdes e os campos de erva fresca e macia, Firmino voa alegre sobre as searas, suspenso nos bicos dos seus maiores amigos.
José Jorge Letria, Histórias do
Arco-Íris
1. Se na zona onde moras há campos, talvez saibas que os espantalhos são
colocados nos quintais e nas searas para enganar os pássaros. A ideia é
levá-los a pensar que os espantalhos são pessoas e que elas lhes podem fazer
mal.
1.1. Explica a razão pela qual o Firmino não conseguia fazer amizade com os
pássaros, como tanto desejava.
1.2. Firmino não desistiu. O que fez ele para ver se conseguia atrair os pássaros?
1.2. Firmino não desistiu. O que fez ele para ver se conseguia atrair os pássaros?
2.1. O que aconteceu, de repente?
3.2. Os pássaros ficaram muito aflitos. Porquê?
3.3. Onde procuraram abrigo?
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